06/7 – Dia Mundial das Zoonoses
O Dia Mundial das Zoonoses é uma comemoração à primeira vacina contra a raiva administrada com sucesso em um ser humano, pelo cientista francês Louis Pasteur, em 6 de julho de 1885. Além de homenagear o sucesso e a importância do imunizante, a data serve como um lembrete sobre a ameaça contínua representada pelas doenças zoonóticas.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem mais de 200 tipos de zoonoses. Mais de 60% das doenças infecciosas humanas têm sua origem em animais. Por todo o mundo, as zoonoses respondem por 62% da Lista de Doenças de Notificação Compulsória, 60% dos patógenos reconhecidos (vírus, bactérias, protozoários, parasitas e fungos) e 75% das doenças emergentes.
De cada cinco novas doenças humanas que aparecem por ano, três são de origem animal. Além do potencial para provocar pandemias globais as zoonoses podem ainda causar interrupções na produção e no comércio de produtos de origem animal para alimentação e outros usos.
Doenças zoonóticas ou zoonoses, são doenças compartilhadas entre animais – incluindo gado, animais selvagens e animais de estimação – e pessoas. Elas podem representar sérios riscos à saúde animal e humana e podem ter impactos de longo alcance nas economias e meios de subsistência.
Essas enfermidades são comumente disseminadas na interface homem-animal-ambiente – onde pessoas e animais interagem entre si em seu ambiente compartilhado.
Doenças zoonóticas podem ser transmitidas por alimentos, água ou vetores, por contato direto com animais ou indiretamente por fômites ou contaminação ambiental.
O contágio pode ocorrer por contato físico (mordidas); por contato com secreções (gotículas de saliva); por vetores como pulgas e mosquitos; ou por consumo de água ou alimentos contaminados.
O surgimento e o ressurgimento de doenças zoonóticas evidenciam a necessidade urgente de uma abordagem de Saúde Única – que integre a saúde humana, animal e ambiental. Nesse contexto, os sistemas agroalimentares desempenham um papel fundamental na detecção precoce e na prevenção de potenciais ameaças pandêmicas.
Em relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) lançado em 2020, foi demonstrado que a abordagem da Saúde Única (One Health) é a melhor forma de prevenir e responder aos surtos de doenças zoonóticas e futuras pandemias.
O referido documento: “Preventing the Next Pandemic: Zoonotic diseases and how to break the chain of transmission”, representa um esforço conjunto do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (ILRI).
De acordo com o estudo, entre as tendências que impulsionam o surgimento de doenças zoonóticas estão a crescente demanda por proteína animal, a expansão agrícola intensiva e não sustentável, o aumento da exploração da vida selvagem e a crise climática.
Todos os anos, cerca de dois milhões de pessoas, principalmente de países de baixa e média renda, morrem devido a zoonoses negligenciadas.
Covid-19, peste bubônica, Ebola, aids, raiva, leishmaniose, leptospirose, toxoplasmose, hantavirose, salmonelose, cisticercose, brucelose, são exemplos de doenças que se originaram em animais e passaram a infectar os seres humanos.
Prevenção e controle:
A forma de prevenir doenças zoonóticas difere para cada patógeno, mas várias práticas são eficientes na redução do risco nos níveis comunitário e pessoal:
– Diretrizes seguras no cuidado com os animais no setor agropecuário ajudam a reduzir o potencial surto de zoonoses de origem alimentar por ingestão de carnes, ovos, laticínios ou mesmo vegetais;
– Padrões para água potável e remoção de resíduos, bem como proteção para águas superficiais no ambiente natural;
– Campanhas educativas para promover a lavagem das mãos após o contato com animais e outros ajustes comportamentais.
Políticas públicas:
A execução das ações, das atividades e das estratégias de vigilância, prevenção e controle de zoonoses de relevância para a saúde pública, além de raiva e leishmanioses, estende-se para outras doenças de transmissão vetorial. Assim, tais doenças subdividem-se em três grupos, sendo: zoonoses monitoradas por programas nacionais de vigilância e controle do Ministério da Saúde (MS), zoonoses de relevância regional ou local e zoonoses emergentes ou reemergentes.
As zoonoses monitoradas por programas nacionais de vigilância e controle do Ministério da Saúde são: peste, leptospirose, febre maculosa brasileira, hantavirose, doença de Chagas, febre amarela, febre de chikungunya e febre do Nilo Ocidental. Outras doenças de transmissão vetorial que acometem somente a espécie humana, como dengue e malária, também podem ser parte integrante das atribuições da área de vigilância de zoonoses.
As zoonoses de relevância regional ou local, ou seja, que apresentam incidência e prevalência numa determinada área do território brasileiro, mas de magnitude, transcendência, severidade, gravidade, vulnerabilidade e potencial de disseminação também somente em nível regional ou local, são: toxoplasmose, esporotricose, ancilostomíase, toxocaríase (larva migrans cutânea e visceral), histoplasmose, criptococose, complexo equinococose – hidatidose, entre outras.
As zoonoses emergentes ou reemergentes são, respectivamente, doenças novas (exóticas) e aquelas que reaparecem após período de declínio significativo ou com risco de aumento no futuro próximo, promovendo significativo impacto sobre o ser humano, devido à sua gravidade e à potencialidade de deixar sequelas e morte. Tais doenças podem ser incidentes ou prevalentes em outros países, e de alguma forma, envolvem uma ou mais espécies de animais no seu ciclo de transmissão, sendo introduzidas no Brasil por meio da entrada de pessoa (s), animal (is) ou de fômites infectados.
Para qualquer grupo de zoonoses, as ações, as atividades e as estratégias de vigilância, prevenção e controle de zoonoses executadas pela área de vigilância de zoonoses se pautam em atuar e intervir, direta ou indiretamente, sobre as populações de animais alvo, de modo a refletir em benefício direto (quanto à redução ou eliminação, quando possível, do risco iminente de transmissão de zoonose) à saúde da população humana.
Assim, toda ação, atividade e estratégia de vigilância, prevenção e controle de zoonoses de relevância para a saúde pública, desenvolvidas e executadas pela área de vigilância de zoonoses, devem ser precedidas por levantamento do contexto de impacto na saúde pública, por meio de avaliação da magnitude, da transcendência, do potencial de disseminação, da gravidade, da severidade e da vulnerabilidade referentes ao processo epidemiológico de instalação, transmissão e manutenção de zoonoses, considerando a população exposta, a espécie animal envolvida, a área afetada (alvo), em tempo determinado.
Fontes:
– Centro de Controle de Zoonoses e de Doenças de Transmissão Vetorial Prof. Américo Braga – Niterói/RJ
– Conselho Regional de Biologia da 1ª. Região
– Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo
– Ministério da Saúde. Manual de vigilância, prevenção e controle de zoonoses: normas técnicas e operacionais
– Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)