08/4 – Dia Nacional do Sistema Braille
Ler com as mãos, conhecer o mundo tocando as palavras com as pontas dos dedos e multiplicar conhecimentos: tudo isso se tornou possível por meio da criação de Louis Braille – o método de leitura para cegos que leva seu nome.
Louis Braille nasceu em 4 de janeiro de 1809, na pequena cidade francesa de Coupvray, a cerca de 45km de Paris. No ano de 1812, ao brincar na oficina do pai, feriu o olho esquerdo com um objeto pontiagudo, sofrendo grave hemorragia e uma infecção que lhe causou a perda da visão daquele olho. Como na época não havia auxílio médico eficaz, tempos depois a infecção atingiu o outro olho e a cegueira total adveio quando ele estava com cinco anos. Seus pais tentaram vários tratamentos, consultaram vários oculistas, inclusive em cidades vizinhas, mas todos os esforços foram em vão, pois ambas as córneas foram afetadas.
Mesmo convivendo com a cegueira, era um estudante exemplar: decorava e recitava as lições que ouvia, confundindo seus professores com sua inteligência brilhante. Aos 10 anos conseguiu uma bolsa de estudos no Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, a primeira escola para cegos do mundo.
A criação do Sistema Braille
As dificuldades enfrentadas por Louis Braille em seus estudos o levaram, desde cedo, a preocupar-se com a possibilidade de criação de um sistema de escrita para cegos. Para isso, ele contou com a ajuda de outras pessoas, como Charles Barbier de la Serre, capitão de artilharia do exército de Louis XIII, criador de um sistema de sinais em relevo que, quando combinados, transmitiam suas ordens militares para os soldados durante a noite. Assim, mesmo no escuro, seus subordinados podiam decifrar as ordens superiores.
Com o uso do sistema, Barbier pensou na possibilidade de seu processo, denominado “escrita noturna”, servir para a comunicação entre pessoas cegas, transformando-o então num sistema de escrita, rebatizado de “grafia sonora”.
Através desse sistema, qualquer frase podia ser escrita, mas, como era um sistema fonético, as palavras não podiam ser soletradas. Um grande número de sinais era usado para uma única palavra, o que tornava a decifração longa e difícil. Louis Braille rapidamente aprendeu a usar o sistema, que praticava sempre com um amigo, escrevendo com o auxílio de uma régua guia e de um estilete. Adquirindo maior habilidade no uso do método, ele acabou descobrindo seus problemas e começou a pensar em possíveis modificações.
O sistema de Barbier apresentava dificuldades, como não permitir o conhecimento de ortografia, já que os sinais representavam apenas sons; não havia símbolos para pontuação, acentos, números, símbolos matemáticos e notação musical, além da lentidão da leitura devido à complexidade das combinações. O novo sistema de Braille visava eliminar completamente esses problemas com a criação de um alfabeto no qual 63 combinações representavam todas as letras, além de acentuação, pontuação e sinais matemáticos. O sistema foi concluído em 1824, quando seu inventor tinha apenas 15 anos de idade.
Apesar da saúde deficiente, pois contraiu tuberculose aos 26 anos, Braille trabalhou constantemente no aperfeiçoamento de seu sistema e, em 1838, publicou a “Pequena Sinopse de Aritmética para Principiantes”. Logo em seguida, em 1839, publicou o “Novo método para representação por sinais de formas de letras, mapas, figuras geométricas e símbolos musicais para uso de cegos”.
Este último método consistia em escrever as letras de forma convencional, marcando com punção uma série de pontos em relevo. Para padronizar a dimensão das letras, Braille determinou em um quadro o número de sinais necessários para cada letra. Esta nova invenção, à qual Braille deu o nome de “grafia pontilhada”, também foi adotada pelos alunos, facilitando a comunicação com os videntes.
Mesmo com seus esforços para aperfeiçoar e desenvolver o sistema e de sua aceitação pelos alunos da Instituição, o método de ensino continuava sendo as letras em relevo de Valentin Haüy (fundador do Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, em 1784), pois muitos professores conservadores relutavam em abandonar os velhos métodos.
Em 1840, o ministro francês do Interior, a quem coube a decisão final, opinou que apesar de os estudos em Braille deverem ser encorajados, os responsáveis pelo ensino de cegos ainda não estavam prontos para a mudança do sistema. Somente em 1843, com a transferência do Instituto para sua nova sede, é que seu diretor passou a aceitar o sistema de Braille.
Com a saúde cada vez mais frágil, Louis Braille foi obrigado a demitir-se do cargo de professor do Instituto, em 1850. Um ano depois, sofreu uma grande recaída da tuberculose, vindo a falecer em 1852, confiante de que seu trabalho não tinha sido em vão.
O Brasil foi o primeiro país da América Latina a adotar oficialmente o sistema, inaugurando o Instituto Imperial dos Meninos Cegos, na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1854. Nessa escola, na década de 1870, teve início a produção de livros em Braille.
Hoje, a entidade se chama Instituto Benjamim Constant, e mais do que uma escola que atende crianças e adolescentes cegos, surdo cegos, com baixa visão e deficiência múltipla, é também um centro de referência, em nível nacional, para questões da deficiência visual, capacitando profissionais e assessorando instituições públicas e privadas nessa área, além de reabilitar pessoas que perderam ou estão em processo de perda da visão.
O método Braille consiste em um sistema de códigos táteis em alto relevo compostos por seis pontos que compõem um total de 63 combinações diferentes, os quais representam letras do alfabeto, sinais de pontuação, números ou mesmo uma palavra inteira.
Feita apenas de forma tátil, da esquerda para a direita, a leitura Braille alcançou muitos avanços ao longo do tempo. Atualmente, além da leitura no papel, também é possível ler utilizando uma Linha Braille, um equipamento que pode ser conectado ao computador ou celular e que exibe a informação contida na tela.
Com o empenho de especialistas, tornou-se um sistema universal de leitura e escrita, sendo adaptado a vários alfabetos, como o chinês, o árabe e o guarani. Foi adaptado, ainda, para todas as áreas do conhecimento, tendo combinações que permitem, por exemplo, a leitura de tabelas, gráficos, partituras musicais, equações matemáticas e estruturas químicas.
A ferramenta proporciona autonomia ao cotidiano de pessoas cegas ou com deficiência visual. Está presente nas embalagens, nas placas, na sinalização, nos mapas táteis, em listas, cardápios, bem como nos serviços bancários e em espaços de cultura e lazer.
O Dia Nacional do Sistema Braille foi instituído pela Lei nº 12.266/2010 em homenagem ao nascimento, em 8 de abril, do primeiro professor cego do Brasil, José Álvares de Azevedo (1834-1854), responsável pela introdução do método no país.
A data comemorativa tem o objetivo de sensibilizar a sociedade sobre a importância de políticas públicas inclusivas para pessoas com deficiência visual, além de ser uma oportunidade para refletir sobre os desafios enfrentados por elas e a importância de que sejam produzidas obras em relevo, para lhes proporcionar iguais oportunidades de ler e aprender, de modo a contribuir para sua integração na sociedade e sua inserção no mercado de trabalho.
A norma determina, ainda, que neste dia entidades públicas e privadas realizem eventos destinados a reverenciar a memória de Louis Braille, divulgando e destacando a importância do seu sistema na educação, habilitação, reabilitação e profissionalização da pessoa cega, por meio de ações que:
– Fortaleçam o debate social acerca dos direitos da pessoa cega e a sua plena integração na sociedade;
– Promovam a inserção da pessoa cega no mercado de trabalho;
– Difundam orientações sobre a prevenção da cegueira;
– Difundam informações sobre a acessibilidade material, à informação e à comunicação e aplicação de novas tecnologias;
– Incentivem a produção de textos em Braille;
– Promovam a capacitação de profissionais para atuarem na educação, habilitação e reabilitação da pessoa cega, bem como na editoração de textos em Braille.
No período de 9 a 11 de abril de 2025, o Instituto Benjamin Constant (IBC) promove o “Congresso Nacional: 200 anos do Sistema Braille”. A programação inclui oficinas, palestras, exposição, lançamento de livros, entre outras atividades e reunirá usuários, professores e pesquisadores do método.
Os interessados devem preencher formulário de inscrição
Atenção: serão apenas 250 vagas, preenchidas por ordem de inscrição.
Mais informações estão disponíveis no site do IBC
Fontes:
Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência (FUNAD) / Governo do Estado da Paraíba
Instituto Benjamin Constant (IBC)
Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB)
Universidade Federal de Viçosa / Unidade de Políticas Inclusivas