18/02 – Dia Nacional da Criança Traqueostomizada
O Dia Nacional da Criança Traqueostomizada foi instituído pela Lei nº 14.249/2021 com o objetivo de promover ações de conscientização e de esclarecimento sobre os cuidados necessários às crianças que passam por traqueostomias, sensibilizando profissionais da saúde, pais, responsáveis e familiares sobre a importância do atendimento multidisciplinar a essas crianças, como forma de diminuir o risco de complicações e morte, bem como estimular procedimentos de assistência adequados para sua proteção e tratamento.
A data, comemorada pela primeira vez em 2022, pretende, ainda, contribuir para a criação de políticas públicas que visem ao cumprimento das recomendações oficiais sobre os cuidados e condutas para crianças traqueostomizadas, bem como auxiliar na organização de centros de referência e na contratação de profissionais especializados.
A traqueostomia é um procedimento cirúrgico realizado para criar uma abertura na traqueia, chamada estoma traqueal, conectando-a diretamente à pele do pescoço. Ela serve para permitir a entrada de ar diretamente para os pulmões. É utilizada para pacientes com obstrução das vias aéreas ou que têm necessidade de assistência respiratória de forma prolongada. Entre as causas mais comuns dessa intervenção em crianças, estão: tempo prolongado de intubação por prematuridade, problemas no parto, longa necessidade de ventilação mecânica por doenças graves, sequelas neurológicas ou após acidentes.
A sobrevivência de crianças nas condições acima depende dos cuidados oferecidos nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e algumas precisam de intubação oro traqueal, para respirarem por ventilação mecânica.
Para que isso seja possível, a criança precisa ser intubada: o tubo – também chamado de cânula – entra pela boca até a traqueia. Porém, algum tempo depois do procedimento, o contato da cânula com a traqueia e com a laringe pode acarretar deformações, como estreitamento, cicatrizes e inflamação em forma de nódulo, o que torna o processo de retirada da cânula, chamado de extubação, muito mais difícil e perigoso.
Por isso, é recomendado que, depois de um período de 10 a 15 dias em ventilação mecânica, caso a criança não tenha o prognóstico nem a previsão de extubação, deve ser submetida a uma traqueostomia – um procedimento cirúrgico para colocação da cânula na traqueia, liberando as vias aéreas para permitir a respiração e preservar a laringe, órgão responsável pela respiração e pela fala.
O tempo necessário para a permanência da traqueostomia depende de cada diagnóstico e também do cuidado com a manutenção dos materiais. É essencial realizar a troca da cânula regularmente, de acordo com a recomendação médica. Para evitar que o paciente fique traqueostomizado mais do que o necessário, é importante fazer o acompanhamento médico e tirar todas as dúvidas no momento das consultas.
A Presidente do Departamento Científico de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, dra. Renata Cantisani Di Francesco ressalta a importância da reabilitação respiratória dessas crianças em centros onde haja uma equipe multidisciplinar – composta de médicos pediatras, otorrinolaringologistas, cirurgião torácico, fonoaudiólogos e enfermeiros especializados – após retirada da traqueostomia e da cânula.
“Muitas vezes as crianças permanecem com a traqueostomia por meses e até anos. Nesse percurso, as famílias encontram inúmeras dificuldades no acompanhamento dessas crianças e, principalmente, desamparadas no manejo e nos cuidados diários. Há necessidade de aspiração da cânula, várias vezes ao dia, uma vez que o acúmulo de secreção pode ser fatal e a criança morre por asfixia”, diz dra. Renata.
Trata-se de uma população de risco que, por não respirar naturalmente pelo nariz tem maior risco de ocorrência de infecções locais do estoma, infecções de vias aéreas, acidentes aspirativos e até obstruções fatais da via aérea. Estas famílias vivem a ansiedade e a angústia do cuidado contínuo de seus filhos, a maioria menor de 3 anos, vivendo sob estes riscos. Mães e pais têm que se afastar de suas atividades e se deslocar com frequência para atendimento em locais aonde as pessoas não estão preparadas para responderem suas dúvidas e oferecerem os cuidados necessários.
A orientação das famílias para fazerem a aspiração corretamente e várias vezes ao dia é essencial. Esse procedimento, no entanto, requer insumos, como luvas, aspirador e cânulas de aspiração. O fornecimento desse material pelo SUS, porém, não é suficiente.
Com acompanhamento médico contínuo, meninos e meninas traqueostomizadas podem ter qualidade de vida, bem-estar e segurança, garantindo seu direito de estarem inseridas socialmente, ou seja, ir à escola, brincar e divertir-se com os amigos.
A legislação que criou o Dia Nacional da Criança Traqueostomizada prevê, ainda, que sejam desenvolvidas atividades intersetoriais alusivas à data de modo a promover ações de conscientização e de esclarecimento sobre os cuidados necessários às crianças traqueostomizadas e as especificidades a elas inerentes, direcionadas aos profissionais de saúde, à comunidade acadêmica, aos familiares e à população em geral.
Fontes:
Agência Minas | Secretaria de Estado de Comunicação Social de Minas Gerais
Dr. Dráuzio Varella
Hospital Infantil Sabará (São Paulo – SP)
Hospital Pequeno Príncipe (Curitiba – PR)
Jornal da USP
Sociedade Brasileira de Pediatria