10/11 – Dia Mundial do Ceratocone
Imagine ver o mundo através de lentes que tornam tudo embaçado, nebuloso e distorcido. Isto é o que muitas pessoas com ceratocone vivenciam todos os dias.
Em 10 de novembro celebra-se o Dia Mundial do Ceratocone, uma campanha global para aumentar a conscientização e a educação sobre esta condição. Todos os anos, nessa data, reúnem-se pesquisadores, profissionais de saúde e tomadores de decisão no campo político para sensibilizar a todos sobre o impacto provocado na vida das pessoas afetadas, bem como nos seus familiares e amigos.
O ceratocone é uma condição degenerativa do olho em que a córnea, normalmente redonda e em forma de cúpula, torna-se progressivamente mais fina, provocando o desenvolvimento de uma protuberância em forma de cone no local mais fino da córnea – geralmente no centro. Se não for tratado, pode causar deficiência visual significativa e cegueira.
Esse cone curva os raios de luz e afeta a visão, com impacto importante nas atividades diárias, no bem-estar emocional e nas interações sociais das pessoas afetadas.
A doença costuma manifestar-se entre os 10 e os 25 anos de idade, mas pode progredir até a quarta década de vida ou estabilizar-se com o tempo. Pode, ainda, atingir os dois olhos de maneira assimétrica, ou seja, afetar mais um olho do que o outro.
Não se conhece sua causa exata, mas, possivelmente, as alterações na superfície da córnea sejam resultado de inúmeros fatores que contribuem para a perda de elementos estruturais dessa membrana e vão desde o decréscimo no aporte de colágeno até o ato de esfregar ou coçar os olhos com frequência. Por isso, o risco de desenvolver ceratocone é maior nos pacientes alérgicos, que sentem muita coceira nos olhos. Ele também está presente em pessoas com Síndrome de Down ou com alterações oculares congênitas, como a catarata e a esclerótica azul (parte branca do olho), por exemplo.
Sintomas:
Há casos de pessoas com história da doença na família que apresentam um quadro de ceratocone subclínico, sem sintomas. Quando eles aparecem, porém, variam de acordo com a fase da doença. O mais característico é a perda progressiva da visão, que se torna borrada e distorcida (tanto para longe quanto para perto) e obriga a aumentar com frequência o grau das lentes dos óculos até que a solução é substituí-los por lentes de contato, que podem ser de diferentes tipos.
Outros sintomas incluem:
– sensibilidade à luz (fotofobia);
– comprometimento da visão noturna;
– visão dupla (diplopia);
– formação de múltiplas imagens de um mesmo objeto (poliopia) ou de halos ao redor das fontes de luz.
Tratamento:
Nas fases iniciais, quando a deformação da córnea não é grave, o uso de óculos é suficiente para recuperar a acuidade visual. No entanto, à medida que o ceratocone evolui, os óculos precisam ser substituídos por lentes de contato, que ajudam a ajustar a superfície anterior da córnea e a corrigir o astigmatismo irregular provocado pela deformidade.
Outras opções de tratamento, são os anéis intracorneais ou intraestromais, chamados anéis de Ferrara, que são utilizados para regularizar a curvatura da córnea, quando os óculos e as lentes de contato não produzem mais o efeito desejado. Há, ainda, o crosslinking, uma intervenção que tem por objetivo fortalecer as moléculas de colágeno da córnea para evitar que ela continue abaulando. A técnica consiste em raspar a superfície da córnea, para depois aplicar um colírio à base de vitamina B2 (riboflavina) e, em seguida, um feixe de luz ultravioleta.
Embora o ceratocone seja uma causa frequente de transplante de córnea, ele só é indicado em um número pequeno de casos mais graves, quando os pacientes deixam de responder bem às outras formas de tratamento.
Prevenção:
Por ser uma doença de caráter genético e hereditário, não se conhecem maneiras de prevenir o aparecimento do ceratocone. Porém, é possível controlar a evolução da doença nas pessoas geneticamente predispostas, corrigindo o hábito de coçar os olhos, tratando a rinite alérgica, as alergias dermatológicas e a asma, por exemplo, que podem causar a coceira. É importante, também, avaliar as condições de adaptação e higiene das lentes de contato, se for o caso.
Estima-se que o ceratocone ocorra em cerca de 50 a 200 em cada 100.000 pessoas na população em geral e seja encontrado em todas as partes do mundo e em todos os grupos étnicos.
Lutar contra o ceratocone é difícil. Por tratar-se de uma doença rara ou incomum, há muito pouca pesquisa e, portanto, menos opções de tratamento. Em alguns países, até mesmo obter um diagnóstico correto pode ser difícil.
No Brasil, cerca de 150 mil pessoas por ano são acometidas, o que enfatiza a importância da consulta periódica com um médico oftalmologista, sobretudo se existirem casos de ceratocone na família. O diagnóstico precoce é fundamental para controlar a progressão da doença e preservar a acuidade visual.
Fontes:
Dr. Dráuzio Varella
Keratoconus Group
Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica