Doenças crônicas demandam novos tratamentos, mas também melhoria da qualidade de vida de pacientes


 

Alzheimer, lúpus e fibromialgia são exemplos de doenças crônicas, sem cura, em que não se sabe exatamente as causas e cujos tratamentos ainda precisam ser bastante aperfeiçoados. Os desafios de lidar com essas enfermidades, portanto, passam não apenas por compreender suas origens, como melhorar a qualidade de vida dos portadores e dos familiares que cuidam deles.

O assunto foi debatido no dia 4 de março, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), durante o primeiro evento do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação de 2024.

“O tema das doenças crônicas é extremamente importante, não apenas pelo número de pessoas acometidas por elas. Por conta do envelhecimento da população e uma série de outras razões, essas incidências aumentam e devemos saber que medidas tomar frente a elas”, disse Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, durante a abertura do encontro.

Segundo Cleusa Ferri, professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), os casos de demência vão aumentar cada vez mais com o envelhecimento da população. E a principal causa é o Alzheimer.

A pesquisadora lembrou que o envelhecimento da população brasileira está acontecendo de forma muito acelerada. “Enquanto a França levou mais de cem anos para dobrar a proporção de pessoas acima de 60 anos de idade, Brasil, China e Índia estão levando apenas algumas décadas”, afirmou.

Citando dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ferri afirmou que, enquanto a população em geral cresceu 6,5%, aquela acima de 60 anos aumentou nove vezes mais.

“A demência tem várias causas e a mais comum é a doença de Alzheimer, que também acomete pessoas mais jovens, mas em que 90% dos casos ocorre depois dos 60 anos de idade. É uma síndrome, não uma doença específica, tem várias causas e não faz parte do envelhecimento normal”, ressaltou.

No mundo, estima-se que haja mais de 55 milhões de pessoas com demência e o número deve chegar a 150 milhões em 2050. No Brasil, são cerca de 2 milhões de pessoas, devendo também triplicar até 2050.

No entanto, é possível diminuir esses números, uma vez que a condição pode ser prevenida. A pesquisadora citou 12 fatores levantados por uma comissão criada pela revista The Lancet para 40% das demências, que incluem baixa escolaridade, hipertensão, tabagismo, alcoolismo, obesidade, depressão, inatividade física, diabetes e isolamento social.

Estudo conduzido pelo grupo da pesquisadora atribuiu cerca de 50% dos casos de demência no Brasil a fatores como esses.

Ainda que não tenha cura nem tratamentos efetivos do ponto de vista medicamentoso, Ferri lembrou que muitos ensaios clínicos estão sendo conduzidos atualmente, com investimento pesado da indústria. “Existe um otimismo de que haverá novidades para tratar as demências”, disse.

Além de investigações sobre as causas da condição, a pesquisadora ressaltou a importância de estudos que ajudem a melhorar a qualidade de vida tanto de pacientes como de cuidadores, normalmente familiares.

Lúpus

Paulo Louzada Júnior, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), lembrou que o lúpus não só tem medicamentos aprovados e mesmo fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como a hidroxicloroquina, como bastante potencial para terapias celulares.

No passado, estudos no Centro de Terapia Celular (CTC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado no Hemocentro de Ribeirão Preto, avaliaram o transplante de células-tronco para tratar a condição.

Embora não tenha tido tanto sucesso para o lúpus, o procedimento teve bons resultados em outras doenças autoimunes, como esclerose múltipla e esclerose sistêmica.

Outras pesquisas conduzidas no CTC incluem o transplante de células CAR-T, que já mostrou bons resultados no tratamento de linfoma e leucemia, para o lúpus. “Vários estudos têm sido feitos no exterior, principalmente na Alemanha, nesse sentido. Agora é um projeto conduzido também em Ribeirão Preto”, contou.

O pesquisador ressaltou a importância de um diagnóstico correto e do encaminhamento a especialista para que a doença possa ser tratada o quanto antes, evitando o agravamento dos casos.

Fibromialgia

Da mesma forma que o Alzheimer, a fibromialgia também não é uma doença específica, mas uma síndrome que tem como principal característica dor crônica generalizada, acompanhada de cansaço, fadiga e até distúrbios cognitivos, explicou José Eduardo Martinez, professor da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-São Paulo), em Sorocaba, e presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

Segundo Martinez, a condição acomete entre 2,5% e 5% da população adulta e também não tem causa conhecida, embora se conheçam aspectos de alguns sintomas. “Sabemos que pacientes têm sensibilização central, ou seja, um aumento da passagem do estímulo doloroso para o cérebro em relação aos mecanismos normais de inibição desses estímulos. É como se tivessem um volume de dor maior”, definiu.

Para o pesquisador, o desafio de tratar os pacientes vai desde o desenho dos estudos, uma vez que existe uma heterogeneidade muito grande entre os pacientes. Por isso, além de ter ou não a condição, o diagnóstico tem sido dado na base da intensidade dos sintomas. “É preciso tratar como algo contínuo, e não dicotômico, de ter ou não ter”, explicou.

Dito isso, as medidas não farmacológicas são as que têm melhor evidência científica de melhora, principalmente a prática de exercício físico, levando ao menor uso de medicamentos.

Assim como para o lúpus, é essencial o diagnóstico correto para tratamento imediato, os médicos precisam estar atentos para que o paciente de fibromialgia seja diagnosticado corretamente e não tenha uma queda acentuada na qualidade de vida.

O evento completo está disponível aqui!

 

Fonte:

André Julião – Agência FAPESP

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