06/7 – Dia Mundial das Zoonoses
Mundialmente, todos os anos, uma pessoa em cada três, adoece por zoonose. Para 2,5 milhões de indivíduos, a doença será fatal. Somente a raiva mata cerca de 60.000 pessoas por ano, mesmo sendo totalmente prevenível.
Saúde humana e animal estão indissoluvelmente ligadas. Os seres humanos dependem dos animais para sua nutrição, companhia, desenvolvimento tecnológico, socioeconômico e científico. Com a interdependência das saúdes humana, animal e ambiental, a preocupação quanto às zoonoses sempre foi pauta pública mundial, mas ganhou destaque com a pandemia provocada pelo Covid-19, que se acredita ter sido originada em morcegos e transmitida aos seres humanos por meio de pangolins (espécie de tamanduás escamados).
No contexto da ecologia utiliza-se o termo em inglês ‘spillover’ (transbordamento) para dizer que um vírus ou micróbio conseguiu se adaptar e migrar de uma espécie de hospedeiro para outra. Foi o que ocorreu com o agente infeccioso causador da Covid-19.
As zoonoses geram impactos não apenas à saúde pública, mas também causam graves perdas econômicas. A busca de soluções para esses problemas, dada a sua complexidade, implica em uma abordagem de cooperação em nível intersetorial e requer contribuição, intervenção e colaboração de equipes profissionais dos setores da saúde humana, animal e ambiental.
Nesse sentido, os governos precisam formular e adotar políticas de saúde pública que levem em consideração os vários fatores que aumentam o risco e dificultam o controle das zoonoses, tais como, mudanças climáticas, desmatamento, incêndios florestais que afetam a biodiversidade genética da vegetação e a destruição do habitat animal, aumento da relação entre humanos e animais selvagens, animais abandonados nas vias públicas, viagens intercontinentais, entre outros.
Zoonoses são classicamente definidas como doenças que são transmitidas de animais para humanos, ou de humanos para os animais, diretamente ou através de uma espécie intermediária, desempenhando, portanto, um papel essencial na manutenção de infecções zoonóticas – bacterianas, virais ou parasitárias – na natureza.
A transmissão pode ocorrer de forma direta, principalmente através do contato com secreções (saliva, sangue, urina, fezes) ou contato físico, como arranhaduras ou mordeduras. De forma indireta, pode acontecer por meio de vetores como mosquitos e pulgas, por contato indireto com secreções, pelo consumo de alimento contaminado com o agente (viral, bacteriano, fúngico ou parasitário), entre outras.
Atualmente, o que se conhece é apenas uma pequena parcela dos vírus que existem na natureza. Muitos deles são descobertos quando uma nova zoonose é detectada. Ao todo, cerca de três quartos das novas doenças (ou doenças conhecidas que ressurgem em novas formas), seja de origem viral ou bacteriana, foram transmitidas por animais.
Uma zoonose pode ser transmitida, dentre outras maneiras, por mordidas e arranhões, contaminação de comida e água, além de contato com fezes e carcaças. Outra forma comum de transmissão acontece durante o abate de animais.
No caso do novo coronavírus, seja de animal para humanos, seja entre humanos, a transmissão ocorre por gotículas respiratórias ou saliva, espalhadas pelo contato próximo.
Algumas das zoonoses mais comuns no Brasil são: Raiva, Leptospirose, Leishmanioses (visceral ou tegumentar), Toxoplasmose, Esporotricose, Febre Amarela, Dengue, Malária, Doença de Chagas, dentre muitas outras.
Prevenção e controle:
As ações de prevenção de zoonoses caracterizam-se por serem executadas de forma temporária ou permanente, dependendo do contexto epidemiológico, por meio de ações, atividades e estratégias de educação em saúde, manejo ambiental e vacinação animal.
Os métodos preventivos diferem para cada patógeno, mas várias práticas são eficientes na redução do risco nos níveis comunitário e pessoal:
– Diretrizes seguras no cuidado com os animais no setor agropecuário ajudam a reduzir o potencial surto de zoonoses de origem alimentar por ingestão de carnes, ovos, laticínios ou mesmo vegetais;
– Padrões para água potável e remoção de resíduos, bem como proteções para águas superficiais no ambiente natural;
– Campanhas educativas para promover a lavagem das mãos após o contato com animais e outros ajustes comportamentais.
Em relatório lançado no Dia Mundial das Zoonoses, instituído em 6 de julho de 2020, a Organização das Nações Unidas (ONU) adotou a abordagem da Saúde Única (One Health) como a melhor forma de prevenir e responder aos surtos de doenças zoonóticas e futuras pandemias.
O documento “Preventing the next pandemic: zoonotic diseases and how to break the chain of transmission”, publicado em 2020, é um esforço conjunto do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e do Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária (ILRI).
De acordo com o estudo, entre as tendências que impulsionam o surgimento de doenças zoonóticas estão a crescente demanda por proteína animal, a expansão agrícola intensiva e não sustentável, o aumento da exploração da vida selvagem e a crise climática.
“Se continuarmos explorando a vida selvagem e destruindo os ecossistemas, podemos esperar um fluxo constante de doenças transmitidas de animais para seres humanos nos próximos anos”, disse Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA.
O Dia Mundial das Zoonoses, celebrado em 06/7, homenageia o cientista francês Louis Pasteur, que nessa data, em 1885, administrou, pela primeira vez com sucesso a vacina antirrábica por ele desenvolvida em um jovem que havia sido mordido por um cão.
Fontes:
Centro Pan-americano de Febre Aftosa e Saúde Pública Veterinária (Panaftosa/OPAS)
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Goiás
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo
KIMURA, Leda Maria Silva. Principais zoonoses
Ministério da Saúde
National Animal Health Forum (NAHF – África do Sul)
Núcleo de Telessaúde da Unifesp