“Unir. Agir. Eliminar” : 30/12 – Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas
O Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN), é comemorado em 30 de janeiro, data do aniversário de assinatura da Declaração de Londres sobre DTN, em 2012. O Dia foi estabelecido por meio da aprovação unânime da decisão WHA74(18) pelos Estados-Membros da Organização Mundial da Saúde (OMS), durante a 74ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada em 2021.
Para 2025, a campanha está adotando o mesmo tema que foi utilizado pelas ações do Dia Mundial da Hanseníase (26/01): “Unir. Agir. Eliminar”, pois esta é uma das DTN que precisa ser eliminada.
A celebração objetiva elevar o perfil das DTN, destacar o sofrimento que elas causam e angariar apoio para seu controle, eliminação ou erradicação, em linha com as metas programáticas estabelecidas no roteiro da OMS 2021-2030 e os compromissos da Declaração de Kigali, de 2022, sobre essas doenças.
É um evento crucial dedicado a aumentar a conscientização sobre as DTN e a estimular ações em todo o mundo, bem como para celebrar o progresso alcançado, chamar a atenção para os desafios que ainda existem e explorar novas oportunidades. Representa, ainda, um espaço para reconhecer aqueles que vivem com essas doenças, lembrar os que perderam suas vidas e apoiar as comunidades atingidas.
Assim, todos são convocados a se unirem, agirem e eliminarem as DTN, realizando investimentos ousados e sustentáveis para libertar cerca de 1,5 bilhão de pessoas, nas comunidades mais vulneráveis do mundo, de um ciclo vicioso de doenças e pobreza.
Mensagens-chave da campanha 2025:
Fortalecimento dos sistemas de saúde:
– Investir em DTN e garantir que elas sejam incluídas na atenção primária à saúde é a pedra angular de sistemas de saúde fortes e pode estabelecer a base para a cobertura universal de saúde.
– As doenças tropicais negligenciadas, por serem doenças de desigualdade, servem como um teste decisivo para a Cobertura Universal de Saúde (CUS). O tratamento das DTN funciona como um rastreador da equidade na CUS e ajuda a garantir que ninguém seja deixado para trás. Sem combatê-las, nenhum país pode alcançar totalmente a CUS.
– Os programas de DTN fortalecem os sistemas de saúde, melhorando o acesso às pessoas com mais dificuldade de serem alcançadas e treinando agentes comunitários de saúde, que fornecem a primeira linha de cuidados primários de saúde. Ambos são vitais para conseguir a cobertura universal de saúde.
– A atenção primária à saúde (APS) é a espinha dorsal dos sistemas de saúde e é essencial para alcançar as comunidades carentes. Como 90% das intervenções fundamentais para a Cobertura Universal de Saúde podem ser realizadas por meio da APS, é vital incorporar as intervenções de DTN nesses pacotes essenciais de atendimento. Incluindo-as, é possível garantir que os serviços de prevenção e tratamento se tornem acessíveis àqueles que mais precisam deles, fortalecendo os sistemas de saúde e acelerando o progresso rumo à eliminação dessas doenças.
Mudança climática e ‘Uma só saúde’ (One Health):
É provável que as DTN sejam particularmente sensíveis às mudanças climáticas devido à grande variedade de patógenos, vetores, hospedeiros intermediários e hospedeiros reservatórios, além da concentração de DTN. Espera-se que as comunidades e populações que vivem em condições vulneráveis sofram mais com as mudanças ambientais nas próximas décadas.
Abordagens centradas na pessoa e lideradas pela comunidade:
Abordagens centradas na pessoa e lideradas pela comunidade são essenciais para programas e intervenções sustentáveis e eficazes. Engajando as próprias pessoas e comunidades afetadas aproveita-se sua valiosa experiência e garante-se que as soluções sejam adaptadas às necessidades reais.
Doenças tropicais negligenciadas são um grupo de vinte e uma condições diferentes causadas por bactérias, parasitas, vírus, fungos e toxinas que podem se espalhar por meio de água suja, solo, picadas de insetos, como mosquitos e flebótomos, ou contato próximo com outras pessoas, inclusive por meio de gotículas ou secreções do nariz, olhos ou boca.
Essas enfermidades são preveníveis ou tratáveis e afetam mais de 1 bilhão de pessoas no mundo todo. São chamadas de negligenciadas por afligirem pessoas e regiões que recebem pouquíssima atenção global e escasso financiamento para esforços de pesquisa, prevenção e controle.
Um mundo livre de DTN está ao nosso alcance:
– 54 países eliminaram pelo menos uma DTN até o final de 2024;
– 690 milhões a menos de pessoas precisaram de intervenções contra DTN em 2023, em comparação com 2010;
– 30 bilhões de tratamentos foram doados por parcerias farmacêuticas para combater DTN entre 2011 e 2024.
Breve sumário das principais doenças tropicais negligenciadas:
– Úlcera de Buruli: Infecção cutânea micobacteriana debilitante que causa destruição severa da pele, ossos e tecidos moles.
– Doença de Chagas: Uma doença protozoária com risco de vida transmitida aos seres humanos através do contato com insetos vetores (triatomíneos), ingestão de alimentos contaminados, transfusões de sangue infectado, transmissão congênita, transplante de órgãos ou acidentes de laboratório.
– Dengue e chikungunya: Duas condições virais propensas a surtos transmitidas por mosquitos que causam uma doença semelhante à gripe que pode estar associada a sintomas graves, dolorosos e incapacitantes e, no caso da dengue, pode causar choque, hemorragia e morte.
– Dracunculíase (doença do verme da Guiné): Uma infecção helmíntica transmitida exclusivamente pela água potável contaminada com pulgas d’água infectadas por parasitas; um ano depois, os vermes fêmeas adultos ulceram dolorosamente através da pele, muitas vezes das pernas, para expelir suas larvas.
– Equinococose: Doença causada pelos estágios larvais de tênias formando cistos patogênicos em órgãos humanos, adquirida pela ingestão de ovos mais comumente eliminados nas fezes de cães e animais selvagens.
– Trematodíases transmitidas por alimentos: Um grupo de doenças infecciosas adquiridas pelo consumo de peixes, crustáceos e vegetais contaminados com parasitas larvais; clonorquíase, opistorquíase, paragonimíase e fasciolíase são as mais comuns.
– Tripanossomíase africana humana (doença do sono): Uma infecção protozoária disseminada pelas picadas de moscas tsé-tsé que é quase 100% fatal sem diagnóstico e tratamento imediatos para evitar que os parasitas invadam o sistema nervoso central.
– Leishmanioses: Um grupo de doenças protozoárias transmitidas pela picada de flebotomíneos fêmeas infectadas; a forma mais grave (visceral) ataca os órgãos internos e em sua forma mais prevalente (cutânea) causa úlceras na pele, cicatrizes desfigurantes e incapacidade.
– Hanseníase: Uma doença complexa causada pela infecção por uma bactéria de crescimento lento, afetando principalmente a pele, nervos periféricos e olhos.
– Filariose linfática (elefantíase): Uma infecção helmíntica transmitida por mosquitos e resultando em vermes adultos que habitam e se reproduzem no sistema linfático; está associada a inflamação dolorosa recorrente e aumento anormal dos membros e órgãos genitais.
– Micetoma, cromoblastomicose e outras micoses profundas: Doenças inflamatórias crônicas e progressivamente destrutivas da pele e tecidos subcutâneos que geralmente afetam os membros inferiores. As pessoas são infectadas quando lesões rompem a pele e permitem que fungos (e bactérias no caso do micetoma) entrem no corpo.
– Oncocercose (cegueira dos rios): Infecção helmíntica transmitida pela picada de borrachudos infectados, causando coceira intensa e lesões oculares à medida que o verme adulto produz larvas, o que acaba levando a deficiência visual e cegueira permanente.
– Raiva: Uma doença viral evitável transmitida aos humanos por meio de mordidas de animais infectados, especialmente cães, que é invariavelmente fatal quando os sintomas se desenvolvem.
– Escabiose e outras ectoparasitoses: Grupo de infestações da pele causadas por ácaros, pulgas ou piolhos; a sarna ocorre quando o ácaro da coceira humana se enterra na camada superior da pele onde vive e deposita seus ovos, causando coceira intensa.
– Esquistossomose (bilharziose): Grupo de infecções por trematódeos adquiridas quando formas larvais liberadas por caramujos de água doce penetram na pele humana durante o contato com água infestada; A esquistossomose está tipicamente associada a patologias hepáticas e urogenitais.
– Envenenamento por picada de cobra: Uma condição potencialmente fatal causada por toxinas injetadas através da picada de uma cobra venenosa, muitas vezes responsável por emergências médicas agudas. O envenenamento também pode ser causado pela pulverização de veneno nos olhos por certas espécies de cobras.
– Helmintíases transmitidas pelo solo: Infecções por helmintos transmitidas por solo contaminado por fezes humanas; eles causam anemia, deficiência de vitamina A, crescimento atrofiado, desnutrição, obstrução intestinal e desenvolvimento prejudicado.
– Teníase e cisticercose: A teníase é causada por tênias adultas nos intestinos humanos; A cisticercose ocorre quando os seres humanos ingerem ovos de tênia que se desenvolvem como larvas em tecidos, incluindo o cérebro (neurocisticercose).
– Tracoma: Infecção bacteriana transmitida por contato direto com secreção ocular ou nasal infecciosa e associada a condições de vida e práticas de higiene inseguras; se não for tratada, causa opacidades irreversíveis da córnea e cegueira.
– Bouba: Doença bacteriana crônica e desfigurante que afeta principalmente a pele e os ossos. Outras treponematoses endêmicas semelhantes à bouba também são consideradas DTN.
No Brasil, a estimativa do Ministério da Saúde é de que cerca de 30 milhões de pessoas estão sob risco de DTN. As mais comuns no país são: doença de Chagas, esquistossomose, filariose linfática, hanseníase, leishmaniose visceral, leishmaniose tegumentar, oncocercose, raiva humana, tracoma e acidente ofídico.
Muitas dessas condições infecciosas têm transmissão vetorial, com participação de reservatórios animais, além de estarem associadas a ciclos de vida complexos.
As DTN são resultantes de desigualdades e vulnerabilização e acontecem principalmente em áreas tropicais e subtropicais. Elas têm sido causa e, ao mesmo tempo, consequência das condições de pobreza estrutural para muitas pessoas, ocasionando incapacidade física e deficiência, estigmatização, exclusão social, discriminação e morte prematura.
Seu controle passa por uma perspectiva mais ampliada de desenvolvimento humano e social, com caráter inclusivo e de enfrentamento à pobreza, envolvendo dimensões ambientais, de saúde humana e animal.
Em 11 de novembro de 2024 o Brasil recebeu da Organização Mundial da Saúde a certificação pela eliminação da transmissão da filariose linfática como problema de saúde pública – um marco significativo na luta contra doenças tropicais negligenciadas.
Fontes:
Agência Fiocruz de Notícias
Biblioteca Virtual em Saúde: Vitrines do conhecimento: Doenças infecciosas negligenciadas
Ministério da Saúde
Organização Mundial da Saúde
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical
World Neglected Tropical Diseases Day