Exercício físico pós cirurgia bariátrica modula áreas do cérebro ligadas à regulação do consumo alimentar
Exercícios físicos praticados por pacientes submetidos à cirurgia bariátrica atuam em áreas do cérebro envolvidas no consumo alimentar, contribuindo, por exemplo, para a redução da fome ou acelerando a sensação de saciedade. O resultado, observado em pesquisa realizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), apontou um aliado no controle do peso desses indivíduos.
O estudo mostrou que o programa de treinamento físico iniciado três meses após a cirurgia bariátrica produz alterações funcionais em redes cerebrais ligadas ao consumo alimentar que são modificadas pela obesidade. As descobertas corroboram a hipótese de que exercícios e cirurgia bariátrica agem sinergicamente na conectividade de regiões associadas à cognição, à recompensa e à regulação emocional, favorecendo, em tese, a regulação da fome e da saciedade.
De acordo com o trabalho, o exercício aumentou a conectividade entre o hipotálamo (região cerebral responsável pela regulação do apetite e do metabolismo energético) e as áreas sensoriais. Além disso, reduziu a ligação entre as estruturas cerebrais DMN (Default Mode Hypoconnectivity, na sigla em inglês para “rede de modo padrão”) e a região do cérebro envolvida em processos de tomada de decisão, a chamada rede de saliência (SAL), cuja conectividade é aumentada em pessoas com obesidade.
Os pesquisadores também detectaram no grupo exercitado um aumento de ativação do núcleo hipotalâmico medial, associado com a supressão do apetite e o aumento do gasto energético.
No Brasil foram realizadas 311.850 cirurgias bariátricas nos últimos cinco anos, das quais 14,1% custeadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o restante por planos de saúde ou particulares, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
Considerada um dos principais problemas de saúde pública no mundo, a obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no corpo e um importante fator de risco para distúrbios cardiovasculares, musculoesqueléticos e, mais recentemente, também ligada ao agravamento da COVID-19.
O parâmetro usado para diagnóstico em adultos é o Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado dividindo o peso da pessoa (em quilos) pela altura (em metros) elevada ao quadrado. Resultados entre 25 e 29,9 caracterizam indivíduo com excesso de peso e índice igual ou acima de 30, obesidade, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Estima-se que, em 2030, a doença deve afetar quase 30% da população adulta do Brasil, um dos países com os maiores índices no mundo, e cerca de 1 bilhão de pessoas no total (ou 17,5% dos adultos), segundo o World Obesity Atlas 2022, publicado pela Federação Mundial de Obesidade.
Entre os próximos passos, o grupo pretende estudar os efeitos da combinação dos exercícios e da dieta com outras estratégias para emagrecimento em pessoas com obesidade. Entre elas estão as novas classes de medicamentos antiobesidade, como os peptídeos análogos às incretinas, que são hormônios intestinais liberados na presença de glicose e que sinalizam ao cérebro que estamos alimentados.
No início de janeiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no Brasil o primeiro medicamento injetável de uso semanal para sobrepeso e obesidade cujo princípio ativo é a semaglutida. Entre as ações que desempenha no organismo está o aumento da sensação de saciedade e redução do apetite, o que resulta em substancial perda de peso e melhora no controle glicêmico.
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